ArabicEnglishFrenchGermanItalianPortugueseSpanish

Préfacio

Durante muitos anos, imaginei que a Medicina poderia me fazer completo como profissional e ser humano. No entanto, a paixão pela Oftalmologia e Oculoplástica tornou-me ainda mais interessado e estudioso na área das cirurgias reconstrutivas e estéticas das pálpebras, da órbita e do sistema lacrimal. E é com este mesmo sentimento que escrevo estas palavras.

Nestas linhas iniciais, quero agradecer a confiança e o apoio do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, que, em sua brilhante trajetória de realizações nesses 80 anos de existência, promoveu diversos Congressos Brasileiros e de Prevenção da Cegueira, representando mais de 16 mil oftalmologistas no território nacional.

Tive a oportunidade de participar de vários destes eventos ao longo destes 25 anos e de contribuir em cursos, palestras e projetos científicos.

Como sabemos, esta obra faz parte de uma das principais metas do CBO: o desenvolvimento de várias ações em defesa do aprimoramento técnico-científico e ético dos médicos oftalmologistas, contribuindo com o crescimento do ensino científico inovador e de qualidade. Passaram-se 24 anos desde o último livro-tema oficial do CBO em Cirurgia Plástica Ocular, escrito pelos grandes mestres Dr. Eduardo Jorge C. Soares, Dr. Eurípedes da Mota Moura e Dr. João O. R. Gonçalves. Neste intervalo, a tecnologia e a globalização difundiram ainda mais esta preciosa subespecialidade, atraindo o interesse dos jovens residentes em Oftalmologia e de cirurgiões de outras especialidades com interesse em aprofundarem-se nas cirurgias das pálpebras, vias lacrimais e órbita.

O papel de relator de uma obra como esta é desafiador. Mas, ao mesmo tempo, é instigante e de muita satisfação, principalmente quando temos como princípio que o aprendizado constante reabastece e renova a segurança para tomada de decisão e conduta para com o paciente em cada caso. Além disso, a experiência acumulada dos anos em Oculoplástica, aliada ao desenvolvimento científico contínuo, como revisor das revistas ORBIT, Pan-American Journal of Ophthalmology e Ophthalmic Plastic and Reconstructive Surgery é um dos meus maiores pontos de motivação. Sou um grande entusiasta por tudo aquilo que possa trazer benefícios aos tantos pacientes que nos buscam no dia a dia.

Dos meus 50 anos de idade, 25 anos são como Oftalmologista e dedicados à Oculoplástica. Sendo assim, o desafio citado há pouco tornou-se um imenso prazer e sinto-me lisonjeado em ser relator deste grande livro que certamente foi revisado sob o olhar destas vivências, histórias e inspirações.

Nesta obra o leitor terá a chance de mergulhar em temas de relevância organizados didaticamente em 11 seções, contendo 124 capítulos sobre a Oculoplástica. Imagino que nasce uma nova referência nacional e mundial.

Trata-se de um compêndio completo em Oculoplástica, capaz de reunir um conteúdo atual e informativo por meio de ilustrações, fotografias e vídeos a cada capítulo, desde a anatomia, exame completo, fotodocumentação e diagnóstico até como conduzir o tratamento do paciente que nos procura para realizar um procedimento funcional e/ou estético da área periocular.

Este livro promete desafiar o leitor com novos conceitos na vanguarda desta subespecialidade. Os tratamentos mais atuais no manejo dos tumores e afecções palpebrais e orbitárias com uso das terapias direcionadas específicas demonstram a interação cada vez mais importante entre a Oculoplástica e os avançados tratamentos no amplo campo da Clínica Médica e da Oncologia.

As questões que envolvem a complexidade no manejo das variadas doenças das vias lacrimais, bem como os desafiadores casos de complicações são profundamente discutidas. As controvérsias no tratamento dos casos de cavidade anoftálmica, seleção dos implantes orbitários e o uso de prótese ocular são apresentadas em detalhes. Nestas páginas, o leitor poderá rever todos os tratamentos, técnicas cirúrgicas e procedimentos convencionais e atuais, passo a passo, por meio de vídeos ilustrativos e explicativos. Este foi um trabalho incansável de dois anos e que contou com um time de excelência composto de autores gabaritados, cirurgiões plásticos oculares nacionais e internacionais, que se destacam em seus serviços pela competência, habilidade e reconhecimento científico.

Os capítulos de Anatomia e Fisiologia são particularmente os meus preferidos, porque acredito que nestas páginas está o início de tudo. O conteúdo foi escrito com todo o cuidado em manter a correlação da anatomia com a clínica, tornando o texto mais agradável e de fácil compreensão aos nossos residentes e fellows. Lembro-me que, aos 26 anos, durante meu fellowship no Jules Stein Eye Institute, em Los Angeles, sob a supervisão direta de um grande mestre e amigo, que muito me inspirou e inspira, Dr. Robert Alan Goldberg – também autor de alguns capítulos deste livro, era esperado e obrigatório ao fellow, o conhecimento pleno da Anatomia das pálpebras, vias lacrimais e órbita. Faço-lhes esta analogia porque na época, a maioria dos materiais de estudo da anatomia era segmentado dos casos clínicos e cirúrgicos, o que tornava o aprendizado um processo ainda mais árduo.

O outro ponto que me encanta é a melhora estética aliada à correção da parte funcional. Recordo-me que, ainda como residente, a cada desfecho cirúrgico ou clínico, eu vibrava com a melhora estética dos pacientes, desde a correção cirúrgica de um caso de uma criança que nasceu com ptose palpebral até um de adaptação de uma prótese ocular em um olho cego e inestético.

Creio que a evolução das técnicas combinada com o avanço da tecnologia e tendências mundiais foram capazes de mudar a aceitação da estética periocular por cirurgiões em todo o mundo. Como tudo tem sua história, ainda durante minha experiência durante o fellowship na UCLA, há 22 anos, a cada dia era uma novidade cirúrgica e, ao final de um ano, aprendi a combinar a cirurgia plástica das pálpebras com cirurgias maiores, abrangendo os terços médio e inferior da face, e, também, a realizar procedimentos minimamente invasivos, que pudessem trazer bons resultados e melhorar a qualidade da pele e rugas, como peelings químicos, resurfacing, toxina botulínica e ácido hialurônico. E é com este espírito de construir, desmistificar e quebrar tabus que a essência e a real extensão do imenso campo do que é a cirurgia plástica ocular estética mostravam-se para mim, e que agora chegam por meio destas páginas para todos vocês. Nos últimos anos houve um crescimento exponencial de informações, uma verdadeira explosão de conhecimento, que facilitou maior abertura dos próprios oftalmologistas nas indicações e condutas de alguns casos estéticos de Oculoplástica.

É muito positivo verificar que isso finalmente mudou! Quando regressei ao Brasil, no ano 2000, fui convidado pela USP a relatar a minha experiência como fellow em Los Angeles. Lembro-me de que nesta época havia uma parcela de cirurgiões conservadores em relação às indicações cirúrgicas, que chegavam a desconsiderar os vários tratamentos possíveis combinando a funcionalidade à estética. Ao acabar a apresentação aos meus professores, notei vários olhos assustados e desconfiados e não me esqueço de que, ao final, me perguntaram se realmente meu fellowship havia sido em Cirurgia Plástica Ocular dentro de um serviço de Oftalmologia. Era difícil entender que, além do clássico tratamento de um entrópio ou ectrópio, ou de uma ptose senil, o mesmo paciente era candidato a outros tratamentos palpebrais e faciais. Em 2021, estes tratamentos correm pelas mídias sociais e são comentados pelos profissionais de forma educacional – e, muitas vezes, pelos próprios pacientes que buscam aquele determinado procedimento. Atualmente é natural que o Oculoplástico realize a cirurgia de uma ptose palpebral e também trate as rugas perioculares com laser de CO2; e ainda, complemente a cirurgia com o preenchimento das olheiras e aplicação de toxina botulínica.

Acredito que este mindset demonstre que estamos adentrando numa nova era da Oculoplástica, onde a inovação e a tecnologia nos conferem a possibilidade de sermos mais assertivos nos diagnósticos por exames de imagem, nos acessos cirúrgicos com instrumentos de alta precisão, como os lasers, radiofrequências e outros, capazes de auxiliar na condução de cirurgias minimamente invasivas. Além disso, é crescente o uso das tecnologias para o rejuvenescimento da pele periocular como os injetáveis, toxina botulínica e fios de bioestimulação, cada vez mais presentes neste novo e amplo arsenal.

Este livro é o resultado da soma de todas essas histórias, ciência e amor. Desta forma, ao escrevermos este livro, procuramos fazê-lo de maneira a facilitar o aprendizado mediante uma exposição clara e atualizada, sempre com a preocupação em produzir um material para dar suporte acadêmico e profissional no vasto campo da Oculoplástica.

Espero que esta obra possa abrir a você, caro leitor, novas perspectivas, oferecendo o maior número de ferramentas e de possibilidades para proporcionar o melhor tratamento oculofacial ao seu paciente com base na saúde completa e no bem-estar integral de nosso bem maior: o ser humano.

André. Boba

💬 Precisa de ajuda?